domingo, 17 de fevereiro de 2008

1ª HOMENAGEM AO PINTOR EM 1981 PELA C.M.LAGOA







Ano: 1981
Exposição: Retrospectiva da Pintura de Manuel Gamboa
Galeria: Espaço onde actualmente está instalada a Biblioteca Municipal
Cidade: Lagoa
Observações: Exposição de Homenagem organizada pela C M Lagoa

Coleccionadores que cederam os seus quadros:

Eng. Orlando Moreira Araújo
Dr. Joaquim Alcobia da Silva
Dr. Nuno Cunha Gonçalves
Arq. Keil do Amaral (viúva de)
D. Maria Luísa Barreto
Eng. Manuel Batista das Neves
D. Regina Gamboa (Irmã do artista)
Sr. Américo Correia
D. Elisa Ribeiro

Considerações críticas:
O texto do catálogo foi elaborado por Luís Carvalho:


“Justo é salientar só alguns conferencistas que abordaram a Vida e Obra de Gamboa, como o Dr. João Barrento (com passagem de dispositivos), Dr. Herbert Minnemann, Dr. Konrada Dilger do Max – Plantz Instituto, H. T. Flemming, Dieter Thiele, K H Schöenfeld, etc.

Sem ordem cronológica ou alfabética aqui deixamos alguns títulos de jornais e revistas que publicaram entrevistas, artigos, crónicas ou meros apontamentos sobre Gamboa:

Em língua portuguesa:
Binário, Letras e Artes, Vértice, Elo, Flama, Séculos Ilustrado, Colóquio, Actualidades, Diário de Lisboa, Jornal de Angola, Emigrante, Diário Popular, República, Portugal Ilustrado, Diálogo do Emigrante (Münster), Portugal Popular (Paris), Despertar (Haia), Barlvento, etc. É citado também no livro “Da Pintura Portuguesa” (1959).

Em língua alemã, citamos apenas estes:
Neue Westfälische (Bielefeld), Die Welt, Hamburger Abendblatt, Lübecker Morgen, Frankfurter Rundschau, Szene Hamburg, Bild Zeitung, Hamburger Kulturell, etc.

Desiludam-se os admiradores de catálogos recheados de frases e chavões que têm feito cátedra na nossa praça lisboeta com longas e pomposas citações dos grandes vultos europeus só para consumo interno pois que poucas têm sido as vezes em que “sociólogos de arte” nas suas reservas de caça, vulgo jornais e revistas onde assentaram tenda (não esquecer a rádio e TV), quando chamados a preencher as folhas de luxuosos catálogos de medíocres pintores, oriundos de boas famílias, os catapultam para os píncaros da fama lusitana, ignorando as realidades palpáveis dos verdadeiros pintores só porque dizem não a este anquilosado servilismo.

Do desterro voluntário, de algumas figuras da pintura portuguesa, são responsáveis moralmente, alguns fazedores da crítica que ainda hoje se consome em Portugal. Alguns “críticos” já rompem os tampos das secretárias há longas dezenas de anos pavoneando-se nas mesmas folhas impressas. Monopólios de doutores...

Sem ferir outros nomes que agora não me ocorrem, cito apenas alguns “desterrados” (infelizmente dois deles já falecidos, casos de Mário Eloy e D’Assunção) que deram tremendas sapatadas que estremeceram esse podre Chiado, assim como dos felizmente ainda vivos, como Vieira da Silva, Júlio Pomar, Manuel Gamboa.

Aquilo que aqui vos deixo é o contributo humano, honrando o convite que Gamboa me endereçou para escrever algo sobre ele no catálogo que acompanhará a sua primeira retrospectiva e na sua própria terra natal!

Difícil, porque desejo ficar isento do elogio barato e oportunista que apenas conduz à palmada nas costas, à foto nos jornais, à oferta de um desenho, etc. Mas fácil porque bem o conheço.

Desde 1960 que Gamboa vive em Hamburg, cidade de 2 milhões de habitantes onde cheguei em 1965. A partir desta data não tenho faltado a nenhuma exposição de Gamboa realizada neste país, assim como delas tendo dado notícias para os jornais portugueses. Digamos que a maioria das vezes o têm feito, mas nem sempre com o texto original, assim como olvidarem o nome de quem as escreveu. O hábito faz o monge...dizem, eis porque não mudo nem uma vírgula a um poema recente em que o termino assim:
Parido

Portugal, ainda continua crú!

Estou portanto, absolutamente à vontade para falar na Vida e Obra (após 1965) do pintor Manuel Gamboa, data que iniciámos o contacto fraternal e tão amiudamente contrafernizamos.

Os seus primeiros anos nesta tão germanizada cidade nem (neste tempo tudo era terrível. Registados no Consulado havia cerca de 100 portugueses. Hoje somos 10 mil!), estão repletos de peripécias tão variegadas que bem demonstram o seu carácter. Vendeu quadros ao primeiro comprador que aparecia por aquilo que calhasse, pois alguns “portugas amigos” precisavam de ajuda urgente.

A sua colaboração ao associativismo luso foi intenso. Sócio fundador do extinto Clube, onde fez parte dos Corpos Gerentes assim como da actual Associação Portuguesa em Hamburgo, durante anos. Hoje, encontra-se afastado pois as divisões partidárias destruiram tudo o que até 25 de Abril de 1974 foi levado a efeito em prol de todos os portugueses trabalhadores emigrados nesta cidade!

É pena, mas é uma constante da nossa vivência além fronteiras!

Às suas exposições (anualmente a média cifra-se entre duas a três) podem-se contar pelos dedos os compatriotas que lá comparecem. É triste e lamentável mas a herança que meio século de fascismo nos legou, ainda é presente! Para a maioria dos nossos compatriotas que aqui labutam toda e qualquer manifestação cultural é considerada como desperdício de tempo pois não se arrecadam marcos ou não há copos ou petiscos.

Nesta amálgama de interesses que prolifera em sociedades de consumo, é natural pois a afirmação de Gamboa:” Amigos portugueses, tenho dois ou três!”

A sua integração, como pessoa no meio alemão é total. Como pintor no meio artístico hamburguês é perfeita e harmoniosa, pois impôs-se com as suas exposições periódicas em galerias diferentes que tem contado sempre com êxitos, tanto nas justas referências que a crítica local lhe dedica como até e isto também é importante para quem vive do seu trabalho, a venda dos quadros expostos, atinge percentagens que constituem recordes absolutos. Apenas este exemplo e por ser o mais recente: no edifício da Câmara Municipal de Ahrensburg, cidade a 30 Km de Hamburg, nos mostrou e convenceu uma vez mais, os milhares de visitantes que por lá passaram. Basta citar que cerca de 70 por cento dos quadros expostos foram vendidos! Extraordinário é também o facto de em todas as suas exposições apresentar sempre novos trabalhos na concepção dos temas, na procura das cores, materiais, etc. “Jamais um português, pintor, se tornou tão conhecido de forma tão convincente na R. F. A., como Manuel Gamboa!”

É necessário viver cá. Sem bolsas de estudo, sem mecenas. Igual a si próprio, derrubando o muro da intransigência e frialdade com que são acolhidos todos os artistas estrangeiros oriundos do chamado terceiro mundo.

Anos a fio Gamboa, tem vindo a cimentar a sua posição como pintor nestas longínquas paragens. É de salientar e de louvar pois conseguiu-º

Abro parêntesis para citar o imortal Picasso após a guerra civil na sua pátria, referindo-se à sua obra Guernica, afirmando ao semanário francês “Les Lettres Françaises”: “Os quadros não servem só como objecto decorativo em salas de estar, mas são também uma arma”:

Gamboa, impulsivo como sempre, cometeu vários desagravos aos dirigentes de então, pois uma sua exposição na Galeria Diário de Notícias (Lisboa-58) dois dias após a inauguração, foi encerrada por ordem da PIDE! Desagradou também aos entendidos lisboetas da pintura portuguesa, muitos dados a fabricar ídolos como pincéis de barro.

Ainda em 2.10.75 na entrevista conduzida por Júlio Rodrigues no Diário de Lisboa, afirma com plena razão e conhecimento de causa que: “Todo o pintor português precisa de um fato macaco”.

Alguns destes quadros produzidos entre 1940 e 1960 são como pioneiros que desbravando terrenos até então inóspitos e virgens, mostraram ao Povo, o que um filho deste mesmo povo foi e é capaz de criar.

Se assim não fosse como se compreendia que profundos conhecedores e coleccionadores de pintura (basta atentar em alguns nomes que figuram neste catálogo...) possuíssem há longas dezenas de anos, obras de Gamboa?”

Luís Carvalho Hamburg Nov. 1981

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